
Na minha família nunca tivemos muitos carros, se não me engano 3 ao todo. Um deles fo

Ficamos com esse carro por muitos anos, enquanto todos na rua tinham carros populares, nós tinhamos um gol esportivo. Eu particularmente gostava dele, aprendi a dirigir nele. Mas como tudo na vida, ele ficou velho, começou a dar mais e mais problemas, e por ser um carro esportivo, as peças eram caríssimas. Ficamos com o carro mesmo assim, às vezes no mecânico e às vezes com agente.
Em um belo dia, saí com meu pai para comprar um saco de areia, desses de praticar boxe. Compramos o tal saco, e estávamos voltando para casa, no meio do trajeto de volta o carro começa a fazer sons estranhos, ficou engasgando até que parou. Se alguem já teve um carro desse sabe que é muito barulhento, cheguei a ficar assustado com o silêncio dentro do carro. Meu pai tentou ligar o carro de todos os jeitos e nada, pode até não ser uma auto-estrada aqui, mas é uma rua movimentada, e os carros passavam voando do nosso lado.
Finalmente desistimos de tentar ligar o carro, era impossivel. Um dos dois tinha que descer e começar a empurrar, mas nem eu nem meu pai estávamos afim de empurrar o carro por quase 10 km até em casa. Chamar o reboque ia ser uma facada, e ia demorar séculos, então decidimos revezar enquanto empurrávamos. Eu fui primeiro e comecei a mover o carro, a princípio foi bem fácil, a rua é bem asfaltada, e não estava calor. Empurrei quase 1 km até cansar, quando digo cansar, é exaustão quase completa mesmo.
Foi a vez do meu pai empurrar e eu fui pegar a direção do carro. Lá dentro era fácil, apesar da velocidade quase nula, era bem confortável. Depois de algum tempo meu pai se cansou tambem, e eu tive de voltar a empurrar, e pra completar ele não podia continuar empurrando porque tinha se machucado a alguns dias. Estava eu sozinho no meio da rua, cansado, e empurrando o carro. Não sei se é assim em todo lugar, mas aqui em especial tem sempre gente querendo ajudar, sempre aparece um na rua querendo empurrar o carro.
_ Não adianta empurrar, não está pegando, eu só vou levar pra casa. Dizia eu
_ Nem se agente empurra com velocidade? tem meus camaradas alí que podem ajudar. Alguns diziam
_ Não precisa, eu só estou levando pra casa mesmo. Respondia eu
Alguns empurravam alguns metros até eu dizer que não estava pegando, afinal de contas eu não sou de aço. Alguns carros passavam bem devagar ao meu lado, só para ver mesmo, e quando eu olhava via, senhoras, crianças e até alguns homens olhando, alguns olhavam duvidosos, outros pareciam me reprovar, outros com pena, mas acredito que o consenso era:
_ Olha que babaca!!
Já tinha feito aquele trajeto outras vezes, e não tinha percebido como era longe de casa. Meu bíceps doiam, minha cabeça doía, minhas pernas, minhas costas, tudo doía. E como toda coisa ruim vem sempre com acompanhamento, começou uma chuva dos diabos, dessas dignas de floresta esquatorial. Agora pra compensar, estava com medo de tomar uma porrada de outro carro que por ventura não me visse. Uma das piores partes era passar por quebra molas, pareciam mais paredes.
Finalmente cheguei no último km de casa, quem lê acha pouco, mas quem está empurrando um carro por quase 10km acha uma tortura. Às vezes meu pai abria a janela e me avisava que já estava chegando, como se isso fosse me confortar, mas de alguma forma não confortava. Chegando nos últimos metros, encontro um amigo meu, ele me ajudou a terminar o trajeto e colocamos o carro na garagem. Acho que nunca agradeci a ele de verdade por ter me ajudado, mas que ele saiba que sou muito grato.
Cheguei em casa mais morto do que em qualquer momento da minha vida, até hoje nunca fiz nada tão exaustivo. E no dia seguinte, praticamente tudo doía, até meus ossos, fiquei resfriado, achei que fosse morrer, até minha alma devia estar sentindo dor.
Depois desse dia o carro foi para o mecânico, e depois de alguns dias voltou a enguiçar na rua, mas nunca mais ousei empurrar aquela maquina infernal. Vendemos ela à alguns anos, espero que dono atual não esteja tendo os mesmos problemas.
E a lição é: " Não compre nada pela aparência"