domingo, 28 de junho de 2009

A Casa da Árvore


Quem nunca sonhou com uma casa na árvore, toda criança um dia já quis ter uma. E eu tambem já quis ter, e tinha amigos que compartilhavam da mesma vontade; e é assim que começa o conto de hoje.
Não sei exatamente em que ano, eu devia ter por volta de 13 ou 14 anos, estava de férias da escola, e não tinha absolutamente nada pra fazer, éramos por volta de 15 vagabundos( vulgos amigos), que estavam sem ter lugar pra viajar e entediados. Eu na minha infância tinha muitos amigos, independente de nos gostarmos de fato éramos amigos.Não sei exatamente quem foi que teve a idéia, mas aquilo cresceu no meio da galera com força total; vamos ter uma casa na árvore.
A idade média dos organizadores da façanha, era basicamente a minha, ninguem tinha noções de engenharia, e não fazíamos idéia de como iniciar o projeto. Felizmente eu morava em um lugar bem fornecido de árvores, elas estavam por todo lado, e eram favoráveis à construção de uma casa nelas; mas não pensem que por isso seria mais fácil trabalhar, hoje eu penso que seria melhor até que essas árvores não estivessem lá, pois aí não teríamos esperança e nem teríamos tentado.
Cogitamos fazer uma vaquinha e comprar uma dessas pré-fabricadas, mas isso ia custar uma fortuna, e logo essa opção foi descartada. A segunda opção era tentar fazer de qualquer jeito e ver com fica; pareceu bem mais interessante. Novamente uma condição favorável surgiu, uma obra tinha começado perto de onde morávamos, e material de construção estava sempre sendo deixado de lado, e nós nos aproveitamos disso, conseguiamos madeira, pregos tortos, escadas velhas, coisas que os operários da obra iam jogar fora, e nós aproveitávamos; mas não pense que era só lixo, eles jogavam bastante coisa boa fora, tábua inteiras de madeira, até tinta nós conseguimos.
Na mesma semana que os recursos começaram a aparecer nós começamos as obras, escolhemos as árvores que pareciam mais sólidas no solo e começamos a levar tudo pra cima. Foi um período extremamente frustante, as obras começavam, vinha a chuva e estragava tudo o que nós tinhamos feito, e tinhamos que trabalhar pra reparar o que a chuva tinha estragado. Os nossos "operários-mirins" geralmente eram proibidos pelos pais de continuar trabalhando, e muitas vezes foram tirados do canteiro de obras na marra mesmo.
Antes de ser ter qualquer coisa pronta já se iniciavam os conflitos de poder, muitos não se gostavam, e o grupo estava ameaçando a ruir por disputas internas. Quem iria usar a casa depois de pronta ia ser um grande problema, as diferenças entre os que estavam dando o sangue na obra estavam começando a aparecer. Mas mesmo assim todos igonoravam o que ia acontecer e trabalhavamos juntos, mesmo existindo o conflito de influência.
E depois de muitas lágrimos( martelei meu dedo váias vezes), suor, gritos e frustações, a base da casa ficou pronta, era uma merda, fazia barulho quando se andava nela, e não parecia nada seguro, mas isso seria consertado com algum reforço na estrutura. Tenho certeza de que violamos diversas regras básicas de engenharia, arquitetura, física, agronomia, psicologia, oceanografia, astrologia dentre outras áreas de conhecimento, mas finalmente tinhas o nosso solo, e não precisávamos mais andar ao nível dos menos desenvolvidos.
Um dia, foi o tempo que eu aproveitei da casa ( na verdade nunca chegou a ser uma casa), pois uma tempestade muito forte se iniciou e derrubou muitas árvores das redondezas, inclusive uma das que eram usadas como sustentação da casa, depois desse dia a vontade se foi por completo, por uma dia todos nós tinhamos vivido como seres superiores e agora estávamos de volta andando no chão, isso acabou com a motivação de qualquer um. Ainda aconteceram várias tentativas menores de reconstrução, mas nenhuma vingou de verdade, a maioria dos "operários-mirins" tinha perdido as esperanças, e alguns poucos não iriam conseguir levantar o sonho de novo.


E a lição é: " Trabalhe até quando ainda existir esperança"

quinta-feira, 18 de junho de 2009

"Porradinha"



É sempre assim, eu fico um tempão sem postar merda nenhuma e de uma hora para a outra eu ressurjo das cinzas com uma historinha nova. Não vou pedir desculpa pra quem ainda lê o "cc", até porque acho ninguem mais vem aqui.

Vou voltar no tempo, na época que ainda era um pequenho menino, cheio de sonhos, cheio de esperança nessa mundo( continuo tendo sonhos). Eu devia estar na 6° ou 7° série, não tinha nada a perder, ia todos os dias pra escola para não fazer nada educacionalmente produtivo, sempre arruma alguma coisa pra me ocupar nos intermináveis minutos de aula. E foi nesse ócio escolar que eu e alguns amigos bolamos a mais divertida de todas as brincadeiras da escola, a "porradinha", hoje em dia acho que aquilo era meio parecido com o filme "Clube da Luta", retardados aos montes se juntavam pra bater uns nos outros.

Muitos devem estar pensando:

"_ Que cara retardado!"
"_ Eu jamais faria uma merda dessas"
"_Que foda, queria ter te participado"
"_ Homens são uns trogloditas, só sabem se agredir"

Mas o que eu tenho a dizer é quer era muito legal, experimente pelo menos uma dia estar no meio de mais de 15 pessoas dando socos e chutes pra todo lado e você irá me entender. Todos os dias depois da aula, os participantes se juntavam num gramado extenso na escola, e por cerca de 10 minutos aquilo se tornava o coliseu de roma. Gente apanhando, gente olhando, gente rindo, tinha todo tipo de pessoa participando, e isso foi ganhando proporções grandiosas demais para meninos da 7° série administrarem, a organização começou a falhar e a famosa "porradinha" passou a ter vida própria, muita gente de outras séries e de outros turnos começaram a participar, pessoas estavam começando a se machucar, até que foi proibida pela direção( não que já não fosse proibido antes, mas agora eles fiscalizavam os lugares de encontro).

A "porradinha" passou a ser uma atividade praticada na surdina, e pra confessar eu passei a ter medo de entrar, começou a ficar sério demais, e na maioria das vezes as lutas não terminavam dentro do ringue. E na minha aposentadoria das arenas resolvi investir em uma última luta, e essa foi ganhando proporções grandiosas( não por minha causa, é claro) , afinal voltariamos às origens do gramado, mesmo sob fiscalização da diretoria que poderia aparecer e acabar com a graça.

Naquele fim de aula todos se reuniram e assim começou, foi muito divertida, bati e apanhei muito, até que se iniciou um tumulto nos arredores da platéia, eram os inspetores que iriam levar qualquer um que estivesse "se porrando". Não sei como, mas quase todos da platéia desapareceram como fumaça, e sobraram somente os que estavam lutando. Iniciou-se uma verdadeira correiria, todos se espalharam e os poucos que continuaram foram capturados.

Consegui correr com alguns amigos, mas os inspetores continuavam a captura pelos corredores da escola, e não era difícil identificar os que participaram da brincadeira, eu por exemplo estava sujo da cabeça aos pés de terra, cheio de grama pelo corpo, e arranhado em alguns pontos. Parecia não ter escapatória, íamos ser punidos. Até que um dos que estavam comigo teve a idéia:
_Esperar o sinal de saída das outras turmas e sair junto deles, disfarçado na multidão.

Não teve erro, quando o sinal bateu, todos fomos nos juntar às outras turmas que iam embora e fomos sem maiores problemas. Nunca mais voltei a participar disso, e depois de alguns meses de clandestinidade a "porradinha" foi extinta por completo. Poucas foram as vezes em que ouvi falar da atividade depois daquele ano, acredito que nem exsta mais na minha antiga escola.

E a lição é: " Viva a vida, mesmo que isso signifique tomar alguns socos"